terça-feira, 25 de março de 2014

Retrospecto

   Ando trocando passos com a solidão, tropeçando em pedras pontiagudas que perfuram meus pés cansados do caminho árido e longo que tenho percorrido. Minhas pernas bambas procuram um encosto junto á sombra de uma árvore de copa bem grande. Ali, descansando começo a observar o quanto tenho andado distraído e deixado me escapar por entre os dedos os grandes pequenos detalhes da vida. Detalhes que fazem tanta diferença, quando além de serem percebidos, revelam nosso verdadeiro eu e se tornam parte de um conjunto de idéias que constroem o nosso próprio ser.
  Tem gente que não valoriza o passado, dizendo ser ele algo medonho e até mesmo vergonhoso em determinados casos; preferem camuflar esta realidade e abandonar as velhas idéias, afinal é sempre mais fácil jogar fora o que está estragado do que concertar. Fico pensando em aspectos quantitativos se tratando de corações que assim como o meu resolveram ser diferentes e se permitiram a se aventurar por paixões, gestos e carinhos e que acabaram sozinhas neste mesmo lugar que me encontro, algumas nem pararam para descansar e outras encontraram seus abismos. Percebe-se uma certa descartabilidade neste sentido.
  Encaro o passado como um ritual de iniciação, onde o objeto ritual sou eu mesmo. Todos os paramentos são necessários para que o êxtase e o sucesso de um encantamento atinja o resultado final esperado. Toda palavra é válida e essencial, todos presentes colaboram para que seja edificada a mistica da vida. As melodias, ah como gosto delas, fico fascinado com sua capacidade de nos remeter a momentos que passamos e que como marca ficam cravadas em nossa memória.
  Levanto os olhos ao céu então, e caio em mim que já é noite, o céu escuro pontilhado de prata e a grande lua ostentada como uma coroa brilhava pra mim, fiquei ali observando por alguns segundos a beleza disso tudo, e encontrei novamente as forças e a coragem que havia perdido pela estrada, pude avistar um novo caminho, incerto talvez, mas era o meu caminho, peguei toda minha bagagem, amarrei ao coração e me aventurei mais uma vez, até porque de sentimento para sentimento o que vale sempre é a grande intenção de amar.



Ruan Sena

n





Dedico este texto aos meus amigos Lucas Assis, Eliomar Castro, Kall de Sá , Felipe e João Paulo Cunha que me ajudaram a elaborá-lo partindo das experiências partilhadas com minha pessoa, meu muito obrigado e carinhos a vocês.