quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

A voz do vento

 Têm dias que levantamos tão sensitivos, que conseguimos quase tornar palpável as energias que fluem ao nosso redor. 
 Hoje resolvi fazer diferente dos cristãos, enquanto entoam cânticos e rezam alto na esperança socorrida de serem ouvidos. Me silenciei, para ouvir a voz do mistério. Senti a água que me purificava no banho e agradeci a ela por tamanha dádiva. Me senti tão vivo e desperto, como se estivesse dormindo a dias, anos ou talvez por décadas. O espírito cega, quando a escolha é somente a matéria. Me vesti, e pensei ter ficado ali aquela sensibilidade, até que o vento que soprava mansinho, veio brincando por entre as copas das árvores e trepadeiras e sussurrou em meus ouvidos um doce som de paz. Tive a impressão de ter escutado literalmente uma calma e terna voz. Senti as árvores confirmando toda essa experiência mística, quando duvidava. Tive certeza que os dedos do sagrado me moviam. Em particular meu íntimo se continha fragmentado pelas demasiadas pedras no caminho, mas percebi a intenção do sagrado em mover estas pedras, fazendo-me ao menos sentir um alívio, como bálsamo posto por entre as feridas para amenizar a dor e me fazer ouvir.
 O sopro é a voz do vento, do vento que é sopro, e que se torna suave ou veraz quando precisa. E o  mistério é o sagrado, o sagrado habita em mim, e logo somos o próprio mistério.

Ruan Sena